terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dacar - Diofior





Rota Dakar - Diofior
Depois de quatro dias em Dacar era altura de partir. A minha próxima etapa era Diofior onde o Moustapha me iria receber. Segundo as indicações dele a melhor forma de chegar a casa dele era apanhando o autocarro nº? (já não me lembro) que partia da central de Dacar ás onze. Depois o motorista que o Moustapha conhecia dir-me-ia onde devia sair do autocarro.
Cheguei á central de autocarros à hora que o Moustapha me tinha indicado e quando vi que o autocarro ainda estava praticamente vazio percebi que tinha uma longa espera á minha frente.
Fora do autocarro, o sol estava a pique e aquecia-me a cabeça, não existiam sombras, a atmosfera era poeirenta e cheia de fumo dos tubos de escape, dentro do autocarro era ainda mais quente. Fui comprar um saco de água fresca. A água vendida em sacos plásticos é muito mais barata que a de garrafa, a água é embalada em sacos, não são simplesmente sacos cheios com água, a água que se compra na rua está fresca porque os sacos ou garrafas são guardados dentro de malas térmicas cheias de gelo.
O autocarro foi enchendo devagar, eu comparava água de 30 em 30 minutos com o calor. Não me tinha lembrado de trazer lanche para a viagem mas comprei umas maças a um vendedor ambulante, e as pessoas que estavam perto de mim no autocarro ofereceram-me amendoins, bolachas, bananas... é sempre fascinante o espírito de partilha das pessoas nos países africanos que visitei, sempre que vão comer alguma coisa oferecem a toda a gente que está á volta. Até a música que estavam a ouvir nos headphones quiseram partilhar comigo. Uma senhora idosa deu-me umas grandes sementes para a mão. Perguntei o que era e não me soube explicar (mais tarde descobri que devia ser noz de cola), mas disse que era para aguentar melhor o calor e para dar energia. Ela também estava a mascar umas iguais e já tinha visto várias pessoas na rua a mascar sementes iguais. Trinquei, tinham um sabor amargo muito forte, não sei se foi efeito placebo mas algum tempo depois o calor pareceu-me um pouco mais suportável.
Finalmente, por volta das 13h ou 14h e já com o autocarro cheio partimos.
A primeira parte da viagem é lenta. Dacar fica numa península e todo o trânsito entra ou sai da cidade por uma de duas estradas. O resultado são filas enormes de carros a qualquer hora do dia.
À medida que nos afastamos mais de Dacar, os subúrbios, dão lugar à savana.
O relevo é relativamente plano, a erva verde cobre a terra vermelha e embondeiros espaçados salpicam a paisagem. Depois de Tatadem as pessoas começaram a saír nas suas paragens. Não era fácil saber onde estava porque raramente existiam placas e eu não tinha mapa.. Tentei falar com o motorista que supostamente conhecia o Moustapha, mas não percebi nada do que ele disse apesar dele dizer algumas palavras em francês.
Finalmente quando já só haviam 3 ou 4 pessoas no autocarro passámos numa tabuleta que dizia Diofior, fui falar de novo com o motorista, mas ele disse: Non! Plus tard! e fez-me sinal que voltasse para o meu assento. Deve ser nesta aldeia mas numa paragem mais a frente pensei. Mas logo a seguir o autocarro saiu da aldeia. Passados alguns quilometros noutra aldeia os ultimos passageiros sairam. Fui falar com o motorista mas ele voltou a responder: - Non. Plus tard.
O autocarro deu a volta e estava de novo a caminho de Diofior, mas antes de chegar, meteu por um caminho de terra até chegarmos a uma rua com casas/cabanas, o motorista parou o autocarro e mandou-me sair, chovia, o motorista apontou-me o portão duma casa. Bati à porta, apareceu o Moustapha.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ilha de Gorée

Ilha de Gorée ou Ilha de Goreia
Gorée é uma pequena ilha, três quilómetros a este de Dakar.
Para ir a Gorée apanha-se o ferry no porto de Dakar e ao fim de 30 minutos de viagem desembarcámos noutro mundo. Enquanto que Dakar é cheia de caos, trânsito e stress, em Gorée não há asfalto nem carros e a vida corre devagar.
A ilha é pequena em tamanho (900 metros por 350) mas rica em história.
Os portugueses foram os primeiros a fixar-se na ilha em 1444, a ilha foi capturada pelos holandeses em 1588, reconquistada pelos portugueses, voltada a ocupar pelos holandeses, tomada pelos ingleses em 1664, capturada pelos franceses em 1677, tendo continuado quase sempre sob domínio francês até 1960, data de independência do Senegal, ainda assim com alguns breves períodos de domínio inglês durante as guerras anglo-francesas, notavelmente entre 1758 e 1763. Monumento aos escravos oferecido por Guadalupe
As diferentes potências europeias que ocuparam a ilha foram construindo as mansões coloniais que ocupam a ilha (segundo um habitante local as construções na ilha foram pintadas de acordo com o povo que as construiu e as amarelas incluindo a igreja teriam sido construídas pelos portugueses, infelizmente não encontrei nenhuma fonte de informação mais fidedigna que me pudesse confirmar ou desmentir essa crença).
A ilha é conhecida como ponto estratégico no comércio trans-atlântico de escravos e é frequentemente visitada por cidadãos de ascendência africana buscando aqui as suas raízes.
A "Maison des Esclaves" construída nos anos 1780 é o edifício histórico da ilha que melhor representa a tragédia da diáspora africana. Neste local, (o último dos centros de comércio de escravos da ilha)hoje em dia um museu, os escravos, chegados de outras partes do Senegal, eram contados, pesados e separados por idade, sexo e condição física antes de serem embarcados para o novo mundo.
Cada uma das celas com cerca 2,60 por 2,60 metros albergava entre 15 a 20 pessoas com os pescoços e pulsos acorrentados. Eram desacorrentados apenas uma vez por dia para fazerem as suas necessidades e se alimentarem. As condições de higiene eram precárias e a espera pelo navio que os levaria a atravessar o Atlântico podia durar até três meses. As famílias eram separadas e era possível que o pai fosse vendido no Brasil, a mãe no Haiti e os filhos no sul dos Estados Unidos, tudo dependia dos compradores interessados.
Apesar de célebre, a importância de Gorée no tráfico de escravos é sobre valorizada, apenas algumas centenas de escravos eram "processadas" aqui em cada ano o que é pouco comparado com os milhares de escravos que partiam de localizações como St. Louis ou Banjul, na foz dos grandes rios Senegal e Gâmbia, importantíssimos neste comércio.arte ao ar livre
A história da ilha é pesada, mas o ambiente fora da "maison des esclaves" é feliz e relaxado.
A ilha é frequentada tanto por turistas como por habitantes de Dacar que vem para usufruir um dia na praia de águas límpidas. As antigas casas senhoriais têm varandas e pátios ajardinados, as ruas são ladeadas de buganvilias e nas praças existem bancos de madeira onde se pode descansar á sombra dos baobabs. Junto á praia existem algumas pequenas pensões e é possível almoçar na esplanada de diversos restaurantes com vista para a baía. Por toda a ilha artesãos e artistas expõem o seu trabalho, é como uma enorme galeria de arte ao ar livre.
Conheci alguns desses artistas quando fui dar uma volta pela ilha, todos eles se mostraram contentes em mostrar as suas obras e a forma como trabalham. A maioria tenta complementar a venda e produção de artesanato com outras actividades sejam essas criação de gado, agricultura de subsistencia ou venda de "erva" aos turistas.Praia em Gorée

Passei algum tempo a conversar com alguns dos artesãos que me convidaram para tomar chá e ficaram surpreendidos por eu ser capaz de identificar as plantas que eles cultivavam (feijões e milho). Terminei a tarde na praia e voltei a Dacar a tempo do jantar.Praia em Gorée













quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Dakar 3






O Natham era simpático mas andava cheio de trabalho e estava sem tempo para me mostrar a cidade por isso parti sozinho outra vez.
Perdi grande parte da manhã na embaixada da Mauritânia. Afinal ia precisar de fotocópias, tal como o meu "guia" do dia anterior me tinha dito, mas só na altura de passar a fronteira e não precisavam de ser autenticadas, tinha sido enganado pelo "mon ami" e o policia que tive que subornar pela autenticação das fotocópias devia estar feito com ele, mas felizmente aprendi a não dar importância a pequenas coisas como essa, afinal perdi apenas dois euros com o golpe e o tipo devia precisar mais deles que eu.
Para ir da casa do Natham até ao centro da cidade tinha apanhado um taxi, mas agora para voltar tinha muito tempo (e não queria gastar muito)por isso tentei apanhar um autocarro. Não consegui encontrar um que fosse directo, mas apanhei um que fez uma parte do caminho. Lembrei-me de ir a pé o que faltava até Ouakam, mas afinal era mais longe do que aquilo que estava à espera.
Farol de Mamelles
Gostei de Ouakam, é um bairro bem mais relaxado que as ruas do centro da cidade, a zona residencial do bairro recebe poucos turistas por isso os preços são mais baratos e fáceis de negociar, as pessoas mais afáveis e não existem aqueles tipos chatos que nos seguem para todo o lado tentando vender-nos bens ou serviços que não queremos. Em Ouakam respira-se calma as pessoas cumprimentam-se (e cumprimentam-nos) na rua e o vendedor de fruta mostra-se contente em conversar enquanto vende as suas mangas. Existem alguns campos de futebol sempre cheios com grupos de miudos a jogar, e a certas horas do dia vêem-se algumas pessoas (brancos e negros) a fazer jogging pelas ruas.
De praticamente qualquer espaço aberto em Ouakam é possível ver dois montes perto do mar "les mamelles" chamados assim porque com a sua forma cónica se assemelham a dois mamilos. Um deles é encimado por um farol, o outro por uma estátua gigantesca.
Ao fim da tarde o calor era menos intenso por isso decidi passar por casa vestir uns calções e ir dar uma corrida até aos dois mamelles.Almadies vista de Farol de Mamelles
Do farol a vista impressiona, o mar está muito perto e consegue ver-se quase toda a cidade; as Almadies e Ngor com as suas praias e vivendas ajardinadas, o aeroporto, Ouakam, Yoff, Mermoz até aos edifícios de escritórios da Medina e do Plateau no centro da cidade.
No outro mamelle o que impressiona são os 52 metros da estátua de bronze construída no seu topo (a estátua da liberdade em NY tem 46 metros).
A estátua representa um casal com um bébé nos braços apontando o céu e simboliza o renascimento do povo e do continente africano (Monument de la Renaissance Africaine), admirado por alguns e odiado por muitos este monumento é altamente controverso na sociedade sengalesa. A critica mais comum é o custo elevadissimo da obra (23 milhoes de euros) num país em que faltam estruturas básicas como escolas ou hospitais. Mas muitas pessoas apontam também o dedo ao financiamento pouco transparente das obras, ao anúncio publico do Presidente Abdoulaye Wade reclamando para si 35% das receitas geradas por visitas ao monumento e estruturas adjacentes alegando direitos de propriedade intelectual sobre este e indicando o seu filho como presidente do conselho de administração da fundação que vai gerir o monumento. Monument de la Renaissance Africaine
Muitas pessoas criticam igualmente o estilo "Estalinista" do monumento e o facto da sua construção ter sido entregue a uma empresa estatal Norte Coreana. Diversos imans locais consideraram o monumento anti-islâmico por ser idólatra (uma vez que representa uma figura humana) e/ou pela semi-nudez (considerada ofensiva) do homem e mulher representados. O criticismo ao monumento foi tão generalizado que levou mesmo a manifestações populares exigindo a demissão do presidente Wade.
No entanto muitas pessoas admiram a grandeza da obra e esperam que esta constitua um simbolo importante para estimular o povo senegalês, melhorar a imagem do país e atrair turistas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dakar 2

No dia seguinte acordei no hostel com o belga e italiana e depois do pequeno almoço fomos para o centro da cidade, eles para tentarem encontrar outro hostel e eu para visitar a cidade e tentar encontrar a embaixada da mauritânia (precisava de um visto para essa parte da viajem).
Na Place de L'Indépendence separámo-nos e cada um seguiu o seu caminho.
Não demorou mais que uns minutos até ser encontrado por alguém que insistia em mostrar-me (de borla) a cidade e o caminho para a embaixada da mauritânia. Já sabia que no fim me iam pedir dinheiro pela visita gratuita mas como avisei inúmeras vezes que não precisava de nenhuma visita e que não ia dar dinheiro no fim e o "mon ami" continuava a insistir que era de borla lá fui com ele. Visitamos o palácio do governador que ficava perto, o meu guia improvisado era simpático e lá foi dando algumas informações sobre a cidade e o país. Como tinha fome e era hora de almoço sugeri que fossemos a algum lado para comer.
- Un bon restaurant?
- Não. Um sítio barato, o tipo de sítio no qual os senegaleses de Dakar vão comer.
Levou-me a um pequeno restaurante junto ao porto, com um aspecto velho e sem decoração, ao ar livre mas com um tecto de chapa e perguntou se podia pedir uma gazelle(cerveja) para ele, disse-lhe que pedisse uma para mim também.
A comida yassa poisson tinha bom aspecto e muito bom sabor e a gazelle geladinha sabia mesmo bem com a comida condimentada e o calor tropical. A comida foi servida nos mesmos pratos para os dois.
Yassa Poisson
A seguir pedi que me levasse à embaixada da Mauritânia. Disse-me que deviamos ir pelo mercado que ficava pelo caminho. No mercado fez-me ver várias tendas e barracas que obviamente eram de amigos dele. Insistiu comigo em todas elas para que comprasse alguma coisa, que me fariam melhor preço por ser amigo dele. Acabei por comprar um bubu (roupa tradicional) de duas peças calças e camisola, por um preço que obviamente incluia (mais tarde confirmei isto) uma pequena comissão para ele. Ainda assim foi bastante barato!
Quando decidi que já tinha visitado suficientes lojas de artesanato e roupa e já tinha conhecido muitos dos amigos do meu "guia" metemo-nos num taxi e fomos até à embaixada onde fiquei a saber que tinha chegado tarde demais e já não ia ser recebido naquele dia. Para ser recebido deveria chegar de manha cedo e esperar pela minha vez.
O meu guia disse-me que se ia pedir um visto ia precisar de fotocópias do passaporte autenticadas pela policia. Fui tirar fotocópias com ele e depois fomos à esquadra, ele tinha-me dito que a autenticação era gratuíta, mas o polícia disse-me que ia demorar talvez um dia talvez uma semana que estavam muito atarefados (não os via a fazer nada). Como eu não tinha percebido bem a mensagem o "mon ami" apreçou-se a descodificar, era preciso subornar o polícia para receber as fotocópias autenticadas, senão podia demorar uma semana ou mais até ter a autenticação
... mais tranquil mon frére je parle avec le gendarme et ça ce fait pas chére 5000cfa est sufi!
Aquilo não me agradou e fui eu falar com o polícia disse que precisava das autenticações e ele olhou para mim como se não entendesse o meu francês e queixou-se que a vida na polícia é dificil e nem dinheiro para tomar café tinha, dei-lhe 2000cfa disse que era um presente para ir tomar café e ele carimbou-me imediatamente as fotocópias.
Despedi-me do meu guia e decidi ir procurar o americano(já o tinha tentado contactar mas o telefone não chamava) mas tinha uma morada. O problema era que na morada não vinha o nome da rua, o que é normal porque grande parte das ruas em Dacar não tem nome, só as maiores ou mais importantes. No entanto vinha o bairro "Ouakam" e um número. Pensei que procurando no bairro podia a partir do número (seria um código postal completo?)descobrir aproximadamente a rua e depois podia perguntar onde viviam os americanos, seria como encontrar uma agulha num palheiro, mas as pessoas conhecem-se umas ás outras e os "brancos" dão nas vistas no Senegal por isso talvez tivesse sorte.
Andei ás voltas pelo bairro de Ouakam enquanto entardecia, até que encontrei um posto de correio e percebi que o número que tinha não era uma código postal completo, era de um apartado. Ia desistir mas um homem perguntou-me porque é que estava a olhar para as caixas de correio. Contei-lhe a história e ele sugeriu que eu talvez não tivesse marcado o número correctamente, eu contei que marquei com indicativo, sem indicativo, com zero sem zero e de todas as formas possiveis, ele perguntou se o meu telefone funcionava no Senegal, respondi que sim que já tinha recebido chamadas (dos meus pais) por isso funcionava, ainda assim ele pediu-me o número e tentou ligar com o telemovel dele e para grande supresa minha o Natham atendeu a chamada!!! Falei com ele e combinámos encontrar-nos num restaurante perto da casa dele.(O Roaming afinal não funcionava bem!) Fui ao hostel buscar a mochila e fui ter com ele ao restaurante.
Agora tinha um sitio onde dormir gratuitamente em Dacar e alguém para me dar algumas indicações sobre a cidade!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dakar e Gorée

O plano para o primeiro dia era sair do aeroporto e ir directamente para a casa do primeiro couchsurfer que me ia receber (até porque a chegar já depois da meia noite).
Escolhi um couchsurfer estrangeiro (americano) para os primeiros dias no país porque achei que isso me iria facilitar a adaptação ao Senegal, no entanto não consegui telefonar-lhe nem antes de partir no avião, nem quando fiz escala em Casablanca.
Ainda no avião já antecipava que a recepção em Dakar não ia ser fácil. Nos primeiros dias em países africanos, é normal pagar demasiado caro por tudo aquilo que se compra. Ou os preços não são fixos e têm que ser negociados exaustivamente, ou têm um valor (mais barato) para os locais e outro (mais caro) para os estrangeiros, principalmente para os estrangeiros acabadinhos de chegar. Depois um ou dois dias quando começo a conhecer os preços locais tudo se torna mais fácil ganho muito mais "lata" e desenvolvo a minha capacidade de negociar.
Mas os primeiros instantes são sempre um pouco confusos e lugares como aeroportos, portos, praças em zonas turísticas e estações são sempre os sitios em que sei que vou ser enganado nos preços. Rua de Dakar
O avião atrasou-se um pouco mas a chegada ao aeroporto decorreu com normalidade e nas filas para mostrar o passaporte conheci um casal curioso um belga e uma italiana que vivem juntos em Espanha.
Tentei contactar o Natham (o cs americano) mais uma vez sem sucesso e percebi que não ia conseguir contactá-lo e que tinha que descobrir um lugar para dormir.
O casal italo-belga também estava à procura de um hostel e pareceu-nos boa ideia procurarmos juntos.
Á saida do terminal, dezenas de motoristas e vigaristas esperavam por nós chamando-nos e tentando atrair a nossa atenção oferecendo táxi, câmbio de moeda, alojamento e outros serviços. Ignorámos o maior monte deles e seguimos para fora do terminal para apanhar um táxi. Pediram-nos 10000 CFA depois 7000 (10 euros) e depois de insistir 5000, ainda era muito para um táxi em África e sabiamos que não era o preço mas eram quase duas da manhã estavamos muito cansados por isso acabámos por aceitar.
Demos a morada de um hostel que alguém no avião tinha sugerido ao casal que vinha comigo. O hostel era em Yoff ou seja muito perto aeroporto, mas ou o motorista não conseguiu encontrar a morada certa ou o sitio não existia mas meia hora e muitas voltas depois ainda nada de hostel, foi então que o motorista sugeriu levar-nos a outro hostel que ele conhecia e que era bom, nós aceitámos com a condição que não fosse caro, e reforçamos bem essa ideia, dissemos que se fosse caro não ficavamos nesse hostel e ele disse que não havia problema. A minha cama e rede mosquiteira no auberge
Pouco depois chegamos ao hostel noutra parte da cidade, realmente tinha bom aspecto, mas o preço era de uns singelos 40 euros a noite. Obviamente não quisemos ficar, mas quando nos preparavamos para ir para outro hostel (este sugerido no "lonelly planet" e por isso com um preço que já conheciamos) o taxista disse que não ia a mais lado nenhum a não ser que lhe dessemos mais 10000CFA. Os 5000 que tinhamos pago já eram demasiado e se não tinhamos encontrado ainda um hostel que nos agradasse a culpa era dele porque não encontrou o primeiro hostel apesar de lhe termos dado a morada (existe alguma dificuldade porque a maior parte das ruas não tem nome, só as principais) e o segundo porque nos disse que era barato e era extremamente caro. Eu não estava minimamente disposto a dar-lhe mais dinheiro e até disse que se ele não ia a lado nenhum, eu também não, que dormia no carro dele se fosse preciso.
Infelizmente por esta altura (talvez por terem mais dinheiro que eu)o casal que vinha comigo já estava a vacilar e disposto a ficar no hotel. "...Este taxista é maluco ainda nos deixa num beco qualquer..." dizia ela assustada "... é mais seguro ficarmos aqui...", para mim ficar ali simplesmente não era uma opção, por isso depois de discutir com o motorista mais um bocado acordei em pagarmos mais 5000 CFA para ele nos levar ao "Auberge Via Via" onde acabamos por ficar os três no mesmo quarto (com 3 camas) porque era o único disponivel.
E assim foi a primeira noite no Senegal, a forma como o país me deu as boas vindas!
Quem ler esta pequena crónica pode julgar que a experiência foi desagradavel e/ou que penso demasiado em dinheiro. De facto, apesar de ter chegado a dizer ao motorista que chamasse a policia porque eu me recusava a sair do taxi antes que este me levasse ao "auberge" pretendido,e de insinuar que ia ficar a dormir no táxi aquela noite a verdade é que a discussão nunca azedou demasiado e continuamos sempre a tratar-nos uns aos outros como "mom ami". E quanto ao dinheiro a verdade é que o meu orçamento realmente era bastante baixo e portanto tinha mesmo que negociar e o preço pedido pelo motorista era ultrajante, o que ele lucrou com a nossa viagem corresponde ao dinheiro que um taxista "normal" (que apanha as pessoas na rua e não no aeroporto) ganha em 2 dias inteiros de trabalho e cerca de 10-15 vezes o preço normal da viagem.
Palácio do governador

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Senegal (Introdução)


População: Cerca de 14 Milhões
Área: 196723 km quadrados = 2,14 vezes o tamanho de Portugal
Língua Oficial:Francês
Línguas Regionais Reconhecidas: Wolof, Soninke, Seereer-Siin, Fula, Maninka, Diola
Língua mais falada pela população fora de Dakar: Wolof
PIB (PPP) per capita em 2009: 1743 PIB per capita em Portugal em 2009: 21860 = 12,5 vezes o PIB per capita Senegalês
Moeda:Franco da África Ocidental (também utilizado na Guiné-Bissau, Mali, Costa do Marfim, Benim, Burkina Faso, Togo e Niger).
Geografia: Um país relativamente plano com elevações importantes apenas no extremo sudeste do território, atravessado por dois rios importantes o rio Senegal e o rio Gâmbia e por dois outros também relevantes, o rio Casamance a sul e o rio Sine-Saloum que forma um grande estuário entre Dakar e o Gâmbia.
A paisagem é formada sobretudo por savana, mais arborizada à medida que nos dirigimos para sul. Em Casamance e no Sudeste encontramos um mosaico de savana e floresta, com florestas galeria junto aos cursos de água. Junto ao litoral e nos estuários dos grandes rios é comum encontrar mangais.
O clima é quente com uma estação seca (Novembro a Maio) e outra húmida (Junho a Outubro). Agosto, o mês em que irei fazer esta viagem é o pico da estação das chuvas, as temperaturas são altas, mas o que é realmente incomodativo é que a humidade é muito elevada fazendo com que a sensação térmica seja alguns graus acima da temperatura que o termómetro aponta.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Porquê o Noroeste de África?

Grande Mesquita de Touba, Senegal
Quando digo a amigos ou conhecidos que vou passar as férias em África uma reacção frequente é(era) a de surpresa por ter escolhido este continente, menos popular entre nós como destino de férias. Na mente de algumas pessoas todo o continente Africano está associado a imagens de pobreza, sujidade, doença e guerra e não tem nada que mereça ser visitado.
Quando eu penso em África penso num continente vasto, variado e original, capaz de causar grande impacto em quem o visita. Um continente com paisagens grandiosas que deslumbram, com parques naturais em que ainda vivem milhares de animais em estado selvagem, mas principalmente um continente rico em culturas diferentes e pouco influenciadas pela cultura ocidental, cheio de pessoas autênticas, espontaneas que trabalham e suam e dançam e cantam e lutam e riem.
A primeira vez que visitei um país fora da Europa o destino escolhido foi Marrocos. Marrocos é um destino próximo, muito próximo de Portugal, em linha recta são menos de 600 quilómetros de Lisboa a Rabat. Esta proximidade leva a que o transporte até ao país de destino seja barato e possa ser feito por terra (e um pequeno troço de mar) não sendo necessário voar.
No entanto apesar da proximidade geográfica Marrocos é um país completamente distinto de Portugal e logo mais exótico e interessante em primeiro lugar porque é um país de uma civilização diferente, é um país islâmico e esse facto não se resume apenas a religião, mas reflecte-se nas tradições, na arquitectura, na culinária, no artesanato, na música e em todos os campos da cultura. Em segundo lugar Marrocos têm um tipo de paisagem que não existe na Europa e que sempre me fascinou que é o deserto.
Depois de ter tidos umas férias fantásticas no ano passado e hà dois anos em Marrocos, decidi que este ano queria conhecer outra civilização, outra cultura, e uma das hipóteses era viajar para a África Ocidental. Surgiu então a ideia de "ligar" por terra este novo destino ao destino que fiquei a conhecer nos anos anteriores, ou seja visitar o Senegal e Gâmbia e fazer desde aí o percurso até Marrakech, atravessando o deserto do Sahara.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Umas férias diferentes!







Troquei a praia e a vida relaxada de Agosto em Portugal por um mês no noroeste de Africa. Serão 5500 km desde o Senegal e a Gambia até Marrocos atravessando a Mauritânia e o Saara Ocidental.