sábado, 16 de julho de 2011

Rurrenabaque




Sena - Rurrenabaque, Uma viagem acidentada!


Tinha entrado no autocarro em Sena há cerca de 4 horas, daí a 20 horas estava prevista a chegada a Rurrenabaque. O autocarro seguia a uma boa velocidade pela amazónia boliviana.
Subitamente ouviu-se um estoiro e a trajetória do autocarro (ônibus) alterou-se. Sentiram-se uns abanões valentes enquanto autocarro se despistava e saía da estrada para se ir enfiar pelo meio da vegetação da selva.
Instintivamente ainda sem perceber o que se passava agarrei-me ao banco à frente do meu enquanto os vidros do autocarro se iam partindo com o impacto contra os ramos de árvores.
Com os sucessivos impactos fui atirado primeiro para a frente (o banco ao qual estava agarrado partiu-se) e depois para trás. Finalmente o autocarro imobilizou-se.
Confusão total, crianças a chorar, mulheres a gritar, vidros partidos, malas espalhadas pelo chão e por cima das pessoas...
Aos poucos as pessoas foram acalmando e verificando se se tinham aleijado. Algumas pessoas tinham sofrido cortes com os vidros partidos, algumas pessoas tinham batido com a cabeça contra os lados ou o teto do autocarro ou sofreram golpes e contusões.
Eu aleijei-me nas costas porque fui atirado para trás de encontro ao encosto dos braços do meu assento que (por ser um autocarro velho) não tinha estofo nenhum a proteger a parte metálica. Também fiz um arranhão feio numa das pernas nem sei bem como.
Felizmente apesar de quase toda a gente ter saído com mazelas ninguém tinha ferimentos graves.

No exterior percebemos que um pneu do autocarro tinha rebentado fazendo com que o motorista perdesse o controlo do veiculo. 
O autocarro despistou-se e enfiou-se selva dentro até parar depois de ter batido numas quantas árvores.
Fora do autocarro fomos logo atacados pelas moscas e mosquitos que são incómodos e abundantes em qualquer ocasião, mas aproveitaram a nossa pele esfolada e feridas abertas para fazerem um festim.
Estávamos no meio da selva sem rede nos telemóveis, e sem possibilidade de contactar fosse quem fosse.
Felizmente ao fim de uma hora passou um camião. O camião tinha uns cabos de aço e com eles tentou-se rebocar o autocarro de volta à estrada. 
Contudo o autocarro estava demasiado atolado nas árvores, nas lianas, cipós e trepadeiras para se mecher. Foi necessário primeiro ir buscar os machetes e tratar de cortar os ramos, caules e raízes que prendiam o autocarro.


Este era o aspeto da frente do autocarro depois de removida a vegetação que o prendia.

Finalmente o camião conseguiu puxar o autocarro para a estrada.


Assim ficou o autocarro depois do embate.
Toda a gente podia ver que o autocarro não ia a lado nenhum. Toda a gente menos o motorista que queria seguir viagem neste autocarro e que só desistiu porque as rodas da frente não endireitavam (acho que o eixo estava partido).
Depois de ter desistido de tentar seguir viagem no autocarro o motorista tentou convencer as pessoas a permanecer no local e esperar pelo autocarro da companhia que as viria buscar. 
Estranho porque nem o motorista tinha rádio nem ninguém no autocarro tinha rede de telemóvel. Então como poderia o motorista ter contactado a empresa?
Devia estar a mentir porque se fossemos noutro transporte podíamos pedir um reembolso e o motorista não queria isso. Algumas pessoas tentaram pedir reembolso e seguir viagem mas o motorista insistia que devíamos esperar pelo outro autocarro que já estava a caminho.
Nesta zona o único autocarro era aquele em que viajávamos que faz duas viagens semanais. Não existia nenhuma cidade num raio de centenas de quilómetros e não existia rede.
Os mosquitos incomodavam cada vez mais à medida que as horas passavam. As pessoas estavam magoadas, sem água nem comida suficiente e a noite ia cair em breve.
Depois de esperarmos 3 horas eu e mais alguns dos passageiros do autocarro incluindo os dois únicos estrangeiros além de mim (um casal de uruguaios), decidimos aceitar a boleia na caixa de um camião que passou. 
A ideia era continuar até à aldeia mais próxima onde existisse um lugar onde comer e esperar aí, num lugar mais confortável e com menos insetos, pelo autocarro da companhia. 

Video da retirada do autocarro

Os mosquitos não davam tréguas como mostra bem o meu pescoço

A próxima aldeia com uma tasca ou restaurante era a muitas horas de distância.
Além disso quando o condutor do camião parou para urinar e falamos com ele descobrimos que o motorista do autocarro lhe tinha pedido para telefonar desde a próxima aldeia à central de autocarros para que eles arranjassem outro autocarro. E como não existia nenhuma cidade próxima esse autocarro ia com certeza demorar muitas horas.
Por isso decidimos fazer toda a viagem até Rurrenabaque à boleia na caixa de camiões.
Não sei se já experimentaram viajar na caixa de um camião. Não é como viajar dentro do camião. A parte da caixa não tem amortecedores. Sentem-se todos os buracos e a trepidação da estrada. Aliás a trepidação era tão forte que fazia saltar as tábuas do chão do camião e podíamos ver a estrada por baixo. Tínhamos sempre que voltar a colocar as tábuas no sítio para o buraco não aumentar e engolir as nossas mochilas (ou um de nós).
 A viagem foi longa, só chegamos a Rurrenabaque vinte e quatro horas depois. Pelo caminho tivemos que suportar o sol, chuva, noite, dia e muita muita poeira da estrada.
A trepidação tornava o sono difícil, principalmente para quem tinha acabado de sofrer um acidente rodoviário e estava magoado nas costas, mas ainda dormi umas horinhas e conseguimos todos manter o bom humor.

 Partilhamos entre todos a pouca comida e bebida que trazíamos na mochila.
 A ferida nas costas que tinha feito no autocarro (Dois dias depois em Rurrenabaque).


Sena, Pando, Bolívia