quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Wassadou - Tambacounda - Kaolack - Djourbel - Touba - St Louis






Na mesma manhã em que fiz o passeio de barco no rio e vi os hipópotamos parti para atravessar todo o Senegal até Saint Louis.
Consegui uma boleia de um dos senhores que trabalha no campement até à estrada.
Aí apanhei o táxibrousse até Tambacounda e a partir daí um táxi septplace até Kaolack.
Quilómetros e mais quilómetros de estrada, a paisagem mudando lentamente, ficando menos luxuriante e ao fim de umas horas estava na confusa gare routiére de Kaolack, de novo nas imediações do delta do Sine Saloum.
Em Kaolack apanhei um novo táxi que me levou todo o caminho até Saint Louis, mas pela rota mais longa passando em Djourbel e Touba para deixar (e recolher) passageiros que iam ou vinham de uma peregrinação à grande mesquita.
Ainda passei ao lado da mesquita de Djourbel, mas não vi a de Touba (acho que ia a dormir nessa altura).
Mesquita de Djourbel (tirada da net)

Áo pôr-do-sol quebrei o ramadão bebendo água e comendo algumas tâmaras que me ofereceram os outros passageiros (como é tradição). O motorista parou na primeira dibiterie da beira da estrada para nos deliciarmos com umas sandes de carne com cebola e para os passageiros rezarem (eu passei essa parte à frente e fiquei a comer mais uma sandes.
De novo quilómetros e mais quilómetros. Era já de noite, não dava para ver a paisagem eu ia "passando pelas brasas" de vez em quando.
E por volta das 3 da manhã cheguei finalmente a St Louis depois de 16 horas e meia de viagem (com 7 pessoas no táxi).
Tinha um contacto do couchsurfing em St Louis mas aquela hora da noite não ia estar a incomodar. Por saber que ia chegar tarde nem sequer tinha ligado antes.
Arranjei um táxi para me levar a um hostel barato que vinha assinalado no lonely planet (porque os táxis que fazem viagens entre cidades deixam as pessoas na central de transportes, não no nosso destino final, a não ser que fique pelo caminho).
Chegado ao hostel estava fechado e ninguém atendia a campainha, o próximo hostel da lista não tinha quartos, estava cheio. Os outros hostels da lista ficavam noutra zona da cidade e eram bem mais caros. Perguntei por um hostel próximo ao porteiro, ele indicou-me um mesmo naquela rua.
Estava aberto e tinha lugares vagos e não era caro, mandei o táxi embora e entrei.
A minha cama ficava numa camarata com 8 camas. Podia escolher a cama porque não estava lá mais ninguém. Aliás julgo que não havia mais nenhum hospede no hostel. As paredes estavam desbotadas e um pouco sujas, o chão estava sujo, nos cantos da divisão existiam algumas teias de aranha e haviam uns baldes e umas tábuas num canto. Algumas camas estavam feitas com os lençois, outras tinham os lençois enrodilhados sobre a cama. Escolhi a cama com os lençois mais limpos mas que ainda assim tinham aspecto de nunca, nunca terem sido lavados. Não vou falar da casa de banho!
Estendi uma toalha de praia sobre a cama, o saco cama sobre a toalha e dormi sobre o saco cama.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Irmandades Sufis no Senegal. Mouridismo e Tijanismo





Este post é sobre irmandades muçulmanas sufis do Senegal, uma parte importante da vida religiosa e cultural do país e serve também para eu contextualizar algumas coisas que vou contar nos próximos posts, nomeadamente no post sobre St. Louis.

A irmandade Tijani ou Tijaniyyah surgiu com Sīdī 'Aḥmad al-Tijānī (1737–1815), que nasceu na Argélia e morreu em Fez em Marrocos. Embora a sua influêcia tenha sido relegada para segundo plano no norte de África ganhou popularidade na África Ocidental onde continua a expandir-se.
Esta irmandade é a maior das irmandades muçulmanas do Senegal em número de seguidores, de facto cerca de metade da população Senegalesa pertence a esta corrente, só por isso merecia que escrevesse sobre ela no mínimo tanto como escrevo sobre a irmandade Mourida no entanto tive grandes conversas sobre a irmandade Mourida e o grande marabout de Touba e embora tenha também ouvido falar muitas vezes sobre a Tijani e os marabouts de Kaolack e Medina-Gounass e Tivaouane nunca ninguém me explicou muito bem a sua história e filosofia por isso não posso escrever muito sobre ela.
No entanto sei que dão muita importância aos 5 pilares do islão e a Maomé.

A confraria ou irmandade Mourida é uma grande ordem islâmica da escola Sufi que tem muitos seguidores no Senegal e Gâmbia e um pouco por toda a África Ocidental.
A irmandade tem origem em Amadou Bamba (1850–1927), filho de um marabout da irmandade Qadiriyya. Amadou Bamba foi um lider espiritual muçulmano, um marabout, mistico e intelectual que escreveu textos acerca de meditação, rituais, trabalho e estudo do Corão.
Apenas uma fotografia de Amadou Bamba sobreviveu até aos nossos dias. Esta fotografia é venerada e existem reproduções expostas por toda a parte, nos autocarros, táxis, nas casas...
Foto de Amadou Bamba
Apesar de não ser a favor da presença francesa na África Ocidental Amadou Bamba não incentivava a luta armada contra estes ao contrário de muitos marabouts Tijaniyyah da época.
No entanto Amadou Bamba tinha uma influência cada vez maior depois de ter convertido vários reis locais ao Mouridismo e os franceses temiam que ele pudesse levantar um exército contra eles. Por este motivo enviaram-no para o exílio primeiro para o Gabão e depois para a Mauritânia.
No entanto no exílio a sua popularidade aumentou, por ter alegadamente sobrevivido a situações de tortura e privação e tentativas de o matarem.
Segundo as lendas, durante a viagem de barco para o Gabão os franceses acorrentaram-no e impediram-no de rezar, ele quebrou as correntes e mergulhou no oceano tendo começado a rezar sobre um tapete de oração que surgiu das águas. Colocaram-no dentro de uma fornalha e ele simplesmente sentou-se e tomou um chã com Maomé. Colocaram-no numa arena com leões e ele deitou-se e dormiu encostado a eles.
Em 1910 os franceses mudaram de estratégia e permitiram que Amadou Bamba voltasse ao Senegal para cooperar com eles em vez de o tentarem afastar.
Foi inclusivamente galardoado pelos franceses pelo seu papel no recrutamento de soldados na África Ocidental para lutarem ao lado dos franceses na 1ª Guerra Mundial.
Foi permitido que a irmandade Mouride crescesse e em 1926 Bamba iniciou a construção da Grande Mesquita de Touba na qual viria a ser sepultado.
Desde então a irmandade continuou a crecer em número de seguidores e influência e foi dirigida pelos filhos de Amadou Bamba.
Desde 2007 o grande marabout é Serigne Mouhamadou Lamine Bara Mbacké, neto de Amadou Bamba.
Hoje em dia a confraria controla importantes sectores da economia do Senegal como o sector dos transportes e a plantação e exportação de amendoins, exercendo também uma influência política muito considerável, de facto o actual presidente do Senegal, Abdoulaye Wade deslocou-se a Touba no dia a seguir à sua eleição para pedir a benção do grande marabout.

Baye Fall
Baye Fall
Um discípulo famoso de Amadou Bamba, de nome Ibra Fall era particularmente conhecido pela sua adoração a Allah e considerava o trabalho uma forma de adoração.
Ibra Fall criou um sub-grupo dentro do Mouridismo chamado Baay Fall em que o trabalho árduo era uma forma de dedicação a Allah e ao marabout.
Os membros do Baay Fall usam roupas grosseiras coloridas e cabelo com dreadlocks muitas vezes enfeitado com argolas de arame e cordel feitas por eles. Em vez de trabalho árduo muitos Baye Fall passam o dia a pedir esmola nas ruas, não para si (só o suficiente para sobreviver) mas para o seu marabout. Muitos deles são bons músicos e tocam enquanto pedem a esmola...

Música Sheik Amadou Bamba por Alpha Blondy


domingo, 23 de janeiro de 2011

Wassadou 2





No segundo dia depois do pequeno almoço fiquei a preguiçar numa espreguiçadeira do hostel enquanto obervava a vista do rio e grupos de babuínos nas árvores. Não tinha reparado no dia anterior mas em cada grande árvore existia quase sempre um grupo de babuínos.
Aspecto do rio Gâmbia visto do campement Wassadou

Aspecto do rio Gâmbia visto do campement Wassadou

Família de Babuínos descansando numa árvore

Família de babuínos numa árvore

Babuínos, progenitora alimentando cria



Depois a meio da manhã fui dar uma volta de barco que o "campement" arranjava por apenas 4 euros. Foi fantástico! Durante algumas horas subimos o rio Gâmbia e tive a oportunidade de observar varanos de metro e meio, grandes águias pesqueiras, macacos, babuínos e os animais que estava mais curioso por ver: hipopótamos!

Varano descansando na margem do rio

Águia pousada numa árvore da margem do rio




Curiosidades sobre hipopótamos:
Um hipopótamo macho adulto pode medir 4 metros e pesar 3500 quilos!
Apesar do seu peso os hipopótamos conseguem atingir velocidades de 35km/h.
São animais herbivoros que passam a maior parte do dia dentro de água e sobem as margens à noite para se alimentarem da vegetação.
Apesar de serem herbívoros são responsáveis por mais mortes humanas que leões, crocodilos e elefantes juntos por serem muito territoriais e por vezes agressivos. O maior perigo são os machos na época do acasalamento e as fêmeas com crias pequenas.
No entanto os que vi estavam bem calminhos e não tentaram atacar o nosso barco apesar deste se ter aproximado um pouco demasiado na minha opinião.


Hipopótamos no rio Gâmbia

Além da interessante fauna parámos para observar e conversar com um pescador que pescava equilibrando-se sobre o seu pequeno barco de aspecto frágil que parecia poder afundar-se a qualquer instante.


Depois da volta de barco parti ainda naquela manhã em direcção a Tambacounda para a partir de aí atravessar o Senegal até St. Louis o meu próximo destino, no norte do Senegal.

sábado, 22 de janeiro de 2011

??? - Velingara - Tambacounda - Wassadou





O titulo deste post começa por "???" porque eu não sabia onde era a aldeia em que fomos impedidos de avançar e tivemos que passar a noite, mas depois de consultar o google earth acho que era a aldeia de Dabo, sei que era uma das ultimas aldeias antes de Diaobé.
A viagem entre até Tambacounda correu bem e sem precalços. Passei Diaobé e Velingara sempre no mesmo táxi e cheguei nele a Tambacounda bastante cedo (felizmente a estrada tinha sido arranjada há pouco tempo e o piso estava bom).
Em Portugal tinha planeado ir, se possivel, ao parque nacional de Niokolo-koba, mas à medida que ia recebendo mais informações sobre o parque vi que ia ser muito dificil eu lá ir.
Em primeiro lugar, é dificil visitar o parque durante a estação das chuvas, os acesso são em picadas de terra batida que podem ficar intransitáveis durante a estação das chuvas.
Em segundo lugar a erva alta desta estação torna o avistamento de animais selvagens muito mais improvavel.
Em terceiro lugar é caro, é caro o alojamento dentro do parque, mas principalmente é caro porque é preciso pagar entrada e é obrigatório alugar um jipe com guia.
Por isso decidi visitar alguma zona nas imediações do parque que se pudesse visitar livremente e que tivesse alguma da fauna que eu esperava encontrar no parque. Seguindo as indicações de algumas pessoas com quem falei em Tambacounda decidi ir para o "campement" Wassadou.
Aldeia de Wassadou

Para ir para Wassadou tive que apanhar um táxibrousse de Tambacounda em direcção a Kedougou e sair na aldeia de Wassadou.
Aí comi uma boa sandes de omolete para ganhar forças para a caminhada ao sol até ao "campement" que ficava a cerca de 4 quilómetros da aldeia.
Seguindo o caminho em direcção ao "campement" começamos por atravessar a aldeia, depois uma zona com campos de cultivo que vão gradualmente dando lugar a floresta/savana arborizada. Num dos ultimos campos já rodeado de floresta avistei um bando de babuínos a esgravatar o chão à procura de alimento.
Babuínos

Os babuínos viram-me, alguns observavam de longe mas o grupo continuava tranquilo à procura de alimento até que se ouviu um barulho vindo do lado oposto do campo e os babuínos puseram-se em fuga.
Á medida que avançava a vegetação tornava-se mais densa e ouviam-se cada vez mais sons de animais.
Termiteira no caminho para o "campement"

O "campement" Wassadou fica situado numa colina entre um ribeiro e o rio Gâmbia, rodeado de "floresta de galeria". Por toda a parte ouvem-se sons de pássaros e macacos.
As instalações confortáveis, limpas e de boa qualidade.
Em vários sitios existem avisos a desaconcelhar os hóspedes a sairem dos quartos durante a noite porque o "campement" é por vezes visitado à noite pelos hipopótamos e a informar que se deve sempre sair acompanhado por um guia por causa dos animais selvagens... podiam ter avisado antes de eu ter caminhado 4 km até aqui.
Fui dar uma volta a pé, pela beira do rio, mas sem me afastar muito do hostel. Estava a uns 500 metros quando ouvi sons de animais a aproximarem-se de mim. Eram babuínos, gritavam e um deles estava a perseguir o outro. Pararam a lutar com os seus grandes caninos, no meio do caminho mesmo ao meu lado. Mais babuínos correram para ver a luta. Eu afastei-me rapidamente e depois de longe a uma distância segura parei para tirar algumas fotografias.

Deixei os babuínos para trás e continuei um pouco mais, existiam muitos pássaros coloridos Merops bulocki "Guêpier à gorge rouge" em francês. Ao fim de alguns minutos resolvi voltar para trás, não me queria afastar muito.
Em breve cheguei ao local onde estavam os babuínos, entretanto todo o bando, cerca de 30 animais se tinha juntado ali. Estavam no caminho que levava ao campement.

Não existia outro caminho por isso esperei que se afastassem. Não os queria perturbar, mas ao fim de alguns minutos fartei-me de esperar e decidi ir na mesma, julguei que se afastariam ao ver-me aproximar, mas ignoraram-me completamente. Tinha que atravessar mesmo pelo meio do grupo, mas como me estavam a ignorar, não devia existir problema, no entanto quando tentei atravessar os babuínos mais pequenos afastaram-se e os maiores colocaram-se à minha frente assumindo uma postura mais "agressiva". Resolvi voltar para trás... a última coisa que queria era ser atacado por um babuíno, já tinha visto a sua força e os seus grandes dentes na luta a que tinha assistido.
Voltei para trás e esperei mais uns dez minutos, os babuínos continuavam no caminho e eu não podia esperar mais, estava farto e não faltava muito para ser de noite, e aí seria realmente perigoso, podiam aparecer outros animais. Procurei e encontrei um pau grande e vim com ele na mão em direcção aos babuínos. Quando me viram de pau na mão desataram a fugir. Pouco tempo depois cruzei-me com um habitante local e perguntei-lhe se os babuínos eram perigosos. Respondeu-me que geralmente não, que se não se afastarem basta ameaçá-los com um pau...
Á noite tive um jantar agradável com um grupo de espanhóis (e espanholas) que estavam a viajar com uma agência de viagens de aventura e que partiam no dia seguinte. Esperamos pelos hipopótamos, mas eles resolveram não aparecer naquela noite.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cap Skirring - Ziguinchor - Kolda - XXX???!!!





Tencionava partir bem cedo de Cap Skirring, mas de manha cedo chovia torrencialmente e resolvi esperar para ver se abrandava, não queria molhar-me todo a caminho da "paragem de táxis" do centro de Cap Ski.
No entanto como a chuva não dava tréguas acabei por chamar um táxi para me vir buscar e levar a Cap Ski, já a meio da manhã. Não podia esperar mais, queria chegar nesse mesmo dia a Niokolo-Koba ou a Tambacounda, mas a viagem era muito longa e não sabia se seria possível.
Além do mais não é nada recomendável fazer viagens de noite em Casamasa, como já expliquei a situação política é instavel. Durante o dia as patrulhas militares asseguram a segurança das estradas, mas é à noite que os rebeldes atacam, vindos da selva ocultados pela escuridão fazem ataques relâmpago, assaltando os carros, tomando reféns e regressando à floresta antes que os militares possam chegar e resolver a situação.
A primeira etapa da minha viagem era Ziguinchor. Fiz toda a viagem até lá debaixo de chuva intensa. Chegado a Ziguinchor tive que abandonar o táxi onde seguia e apanhar outro (os táxis são colectivos, funcionam quase como autocarros). Tive de esperar que o novo táxi enchesse para poder partir o que ainda acentuou mais o meu atraso. Quando conseguimos juntar as 6 pessoas necessárias para encher o táxi partimos agora em direcção a Kolda.
Homem mostrando um macaco a crianças na estação de transportes de Zuiguinchor

Pelo caminho o motorista perguntou se alguém ia para Velingara ou Tambacounda. Eu disse que sim, mas mais ninguém no táxi ia, o taxista disse que me levaria até Velingara ou Tambacounda se conseguisse arranjar mais passageiros para encher o táxi para a viagem.
Em Kolda o motorista deixou os passageiros perto da central de transportes, mas não entrou. Nas centrais de transportes os motoristas têm que pagar uma taxa para recolher passageiros.
O taxista saiu do carro para procurar passageiros e eu fui ajudar, quanto mais depressa arranjasse passageiros mais depressa partia, por isso dei uma volta pela rua onde o táxi estava gritando para o ar Velingara, Velingara, Tambacounda, Tambacounda, Diaobé, Diaobé (é pratica comum gritar os destinos e as pessoas já sabem que é sinal que há um táxi que quer partir).
Em meia hora conseguimos atrair pessoas suficientes para encher o carro e partimos, no entanto já não era nada cedo, já não ia chegar a Tambacounda de dia por isso decidi que saía do táxi em Velingara e continuava no dia seguinte.
Continuava a chover bastante, a estrada de pavimento fraco cheio de buracos, cruzava zonas de floresta, campos de cultivo e pequenas aldeias e de vez em quando passavamos uma das "habituais" patrulhas militares.
Algumas secções da estrada eram más e cheias de buracos mas outras tinham pavimento novo e estavam em boas condições (Esta foto foi tirada no dia seguinte quando já não chovia, no dia deste relato a visibilidade era muito má por isso não deu para tirar fotos)

Eram cerca de cinco horas da tarde quando chegamos a um ponto da estrada à saída de uma aldeia em que a estrada estava barricada com troncos. Havia uma pequena caserna ao lado da estrada, um tanque estacionado e três militares de metralhadora.
Dirigiram-se ao motorista em Wolof, tive que mostrar o passaporte, aguardámos, devolveram-me os documentos, o motorista deu meia volta e voltou à aldeia.
Perguntei o que se passava, o motorista não explicava nada, ninguém explicava. Até que um dos passageiros me começou a explicar que a estrada estava barricada porque não era segura. Os carros que tinham tentado atravessar aquela hora no dia anterior tinham sido atacados pelos rebeldes. Também já não podíamos voltar para trás para Kolda porque a estrada até aí também não era segura de noite.
Fiquei confuso, segundo o que tinha lido os problemas com rebeldes existiam no Baixo Casamansa e nós estávamos no Alto Casamansa. Parece que os rebeldes se estão a deslocar para leste e que os artigos só falam do Baixo Casamansa porque é aí que existem as praias e os turistas, não ouvi ninguém a falar da insegurança no Alto Casamansa, mas a verdade é que as pessoas com quem falei nunca tinham cá vindo.
- E agora? O que vamos fazer? - Perguntei ao tal passageiro, enquanto o motorista estacionava o carro na aldeia.
- Temos de dormir na aldeia e amanhã de manhã continuamos a viagem.
A aldeia era apenas uma aldeia de cabanas com tecto de colmo. Não existia obviamente nenhum tipo de alojamento. As nossas hipóteses eram dormir no carro (éramos 6 mais o motorista mais a bagagem de seis pessoas) ou encontrarmos alguma alma caridosa que nos deixasse pernoitar na sua casa por algum dinheiro, ou dormir ao relento (debaixo da chuva intensa).
Continuei a falar com o Dialló, o passageiro que me tinha explicado o que se passava, apresentamos-nos, eu disse que era português, ele explicou que vivia no Senegal mas era mauritano e fomos juntos comer alguma coisa e procurar um hostel, mas não existia nenhum. Como em quase todas as aldeias Senegalesas existia um mini-mercado cujo dono era mauritano. Como era do mesmo país que ele podia ser que lhe desse alojamento (e a mim também esperava eu). Chegámos, eles conversaram em (seria pulaar?) e ele disse que podíamos ficar ali e não era preciso pagar nada, éramos convidados.
As nossas instalações ficavam numa cabana (foto) nas traseiras do mini-mercado.
A cabana

Não havia água nem luz, mas eu tinha o meu frontal que foi muito útil. Trouxeram-nos um chá e um prato de arroz branco (para os três; eu, o Dialló e outro dos passageiros que nos viu e veio também). Soube a pouco, só tinha comido uma sandes antes porque estava com pressa de encontrar um alojamento e resolver a situação e durante o dia inteiro não tinha comido nada.
Perguntei se seria seguro atravessar no dia seguinte. Explicaram-me que antes de abrirem a estrada esta é patrulhada pelos tanques para assegurar que não existem rebeldes, só depois abrem a estrada. Na aldeia durante a noite também seria seguro porque era à entrada da aldeia que os militares pernoitavam e existiam sempre alguns de vigia.
A cama não era muito confortável, a noite estava demasiado húmida e quente e a roupa colava-se ao corpo, tinha fome e não sabia se ia acordar a meio da noite com o som de tiros entre tropas e rebeldes(altamente improvável, mas não completamente impossível)... dormi como um bébé e só acordei na manha seguinte!

*PS Não há fotos dos militares porque é proibido e não apetecia ficar com a máquina fotográfica apreendida, ou pior.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Aves, répteis e pequenos animais do Senegal





Coracias da Abissínia
Em Diofior
Euplectes Franciscanus
Em Foundiougne
Merops bulocki
Em Wassadou


Uma das coisas que mais gostei no Senegal e Gâmbia foi a incrivel diversidade e cor das aves que lá existem. Em qualquer parte do país, é possivel observar muitas aves, mais diferentes e com mais cor do que as que estámos habituados a ver na Europa. Até em Dakar, basta ir até uma zona arborizada encontrar pássaros em abundância e há abutres nas lixeiras e mergulhões no porto junto aos barcos.
No blog mostro algumas aves que consegui fotografar, mas só consegui fotografias a uma pequena fracção das que vi, e só vi uma fracção muito pequena dos tipos de aves que aqui existem.
De facto existem 664 espécies de aves identificadas no Senegal, as aves marinhas são particularmente abundantes.
Nas regiões húmidas do delta do rio Senegal, no Sine Saloum, no Gâmbia e em Casamansa existem ilhas em que milhões de garças, pelicanos, corvos marinhos se juntam em enormes bandos.
Para ver mais fotos e informações sobre aves no Senegal e Gâmbia seguir os links:
http://www.oiseaux.net/birds/senegal.html
http://www.flickr.com/groups/birds-gs/pool/






Gosto de reparar em todo o tipo de animais, incluindo os répteis. Aqui estão alguns.
O tipo de lagarto mais comum no Senegal, o Agama com um acentuado dimorfismo sexual, em cima a fêmea acastanhada com manchas alaranjadas (na ilha de Gorée) e em baixo o macho negro/azulado com cabeça e cauda amarela (fotografado em Diofior).
Outro tipo de lagarto. (Fotografado em Dakar junto ao Farol de Mamelles).

Também vi alguns insectos diferentes, obviamente não os fotografei todos, nem ponho aqui mais fotografias para não aborrecer, mas deixo aqui estes exemplos.


Estas duas que se seguem são as nossas amigas aranhas que nos faziam companhia. A primeira encontrei-a no chão do meu quarto. A segunda encontrou-a o Mourad junto ao tecto do quarto dele. Além de serem bem grandes, também eram venenosas,ou pelo menos foi que nos disseram os funcionários do hostel.

Em Casamasa vi alguns animais que tinham umas dimensões fora do comum. Nas imagens um milipede, um daqueles "bichinhos pequeninos" com muitas pernas, só que este é bem mais longo e mais grosso que os meus dedos. Na outra imagem um gordo caracol quase do tamanho de uma mão, estes caracois eram muito abundantes nos jardins do meu hostel em Cap Skirring.

Um pequeno mamífero que fotografei junto ao farol de mamelles en Dakar, não sei o que é, será um esquilo ou um suricate? Não me parece nem uma coisa nem outra, mas se alguém souber avise para eu poder colocar aqui o nome correcto.

Eu sei que não é possivel ver quase nada nesta foto mas passo a explicar o que seria possivel ver se eu conseguisse fazer uma boa fotografia noturna.
A árvore na fotografia é uma mangueira junto ao meu quarto em Cap Skirring que tinha várias mangas nos seus ramos mais altos. Todas as noites esta mangueira era visitada por raposas voadoras, ou seja morcegos enormes do tamanho de gatos que vinham alimentar-se das mangas e faziam uma barulheira lutando entre si pelas mais maduras.

Ramadão





No meu último post disse que em Cap Skirring estava a fazer o jejum do Ramadão. Algumas pessoas já me perguntaram porquê. Não me converti ao Islão nem fiz o jejum por ser obrigatório nos países que estava a visitar.
Em nenhum dos países que visitei as pessoas cumprem o jejum do Ramadão por serem obrigadas, fazem-no por opção.
Então porque é que eu o fiz?
Em primeiro lugar porque (quando estava a ser hospedado por pessoas que cumpriam o Ramadão) me parecia uma falta de educação estar a comer e a beber enquanto os meus anfitriões jejuavam.
Em segundo lugar porque eu tento experimentar todos os aspectos da cultura dos países que visito, é interessante provar pratos da cozinha local, durante o dia no mês do Ramadão o prato local a provar é o jejum, pode não ser o prato mais agradavel ao almoço, mas acentua o paladar do jantar.
Além disso as pessoas apreciam que se faça jejum do Ramadão, fiquei com a impressão que as pessoas passam a ser mais simpáticas quando sabem que o estámos a fazer, afinal é uma demonstração de respeito pelas tradições deles, é normal que seja apreciada.
Finalmente não comer nem beber durante o dia no calor africano é um teste à nossa resistência e auto-controlo e eu gosto sempre de saber o que sou capaz ou não de fazer!
No entanto não cumpri o jejum do Ramadão todos os dias enquanto cá estive, apenas quando estava a ser hospedado por ou a viajar com pessoas que o faziam... uns 10 dias.
Em Cap Skirring cumpri o jejum porque o Mourad é muçulmano, o Julien também estava a experimentar cumprir o jejum só por curiosidade como eu.
Mas o que é afinal o Ramadão?
O Ramadão é o nono mês do calendário islâmico.
É o mês durante o qual o Corão terá sido revelado a Maomé (Muhammad) e o mês que Deus terá imposto como mês de jejum.
O calendário islâmico é um calendário lunar e não solar como o nosso.
É composto por doze meses lunares, cada um com 29 ou 30 dias.
Cada ano têm 354 ou 355 dias em vez dos 365 ou 366 do calendário solar o que implica que o Ramadão não seja todos os anos na mesma altura. Cada ano começa 11 dias(no nosso calendário) mais cedo que no ano anterior.
Deste modo em 2010 o Ramadão começou no dia 11/12 de Agosto e em 2011 começará no dia 1 de Agosto.
Em muitos sítios os crentes iniciam o Ramadão de acordo com a data prevista nos calendários astronómicos, no entanto aqui no Senegal quase todas as pessoas usam o método tradicional, a observação da lua. Cada mês lunar inicia-se com a lua nova. Nas noites anteriores ao início do Ramadão as pessoas observam o céu, quando o crescente surge depois da lua nova o Ramadão começa.
Durante o mês do Ramadão, os crentes jejuam (não comem nem bebem nada) entre a alvorada e o pôr-do-sol.
O jejum é obrigatório (segundo o Corão) para todos os adultos excepto doentes, grávidas, lactantes, mulheres menstruadas e idosos muito velhos.
No entanto o jejum não é tudo, nesta época é pedido aos crentes que se abstenham de sexo, que vão mais frequentemente à mesquita, que tenham uma prática mais intensa da caridade que leiam o Corão e que evitem qualquer tipo de acção ou pensamento impuro.
Normalmente imediatamente a seguir ao pôr-do-sol as pessoas comem uma refeição simples (Iftar) que tradicionalmente se inicia comendo tâmaras. Depois desta pequena refeição as pessoas fazem a oração (preferencialmente na mesquita) e depois voltam a casa para fazer uma refeição mais substâncial. Não há restrições quanto aquilo que se come à noite no Ramadão, excepto comidas que são consideradas inapropriadas durante o ano inteiro como carne de porco ou álcool. Porém muitos muçulmanos que bebem bebidas alcoólicas durante o resto do ano evitam-nas durante este mês.
Durante o Ramadão é comum o comércio estar fechado durante a manhã e abrir a partir das quatro ou cinco da tarde e ficar aberto até ás duas ou três da madrugada.
Muitas pessoas acordam de madrugada antes do sol nascer para fazerem uma refeição que lhes permita mais facilmente aguentar o jejum que se seguirá durante o dia. Quem pode, dorme durante a manhã e acorda só ao principio da tarde, o que torna o jejum muito mais fácil.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Cap Skirring 2





Passei dois dias agradáveis com o Mourad e o Julien em Cap Ski.
Nadámos bastante, passeámos até à praia dos pescadores do outro lado de Cap Skirring onde os homens do mar puxavam os barcos para terra depois da faina.

Pescadores em Cap Skirring

Regressamos ao hostel pela praia onde haviam vacas a passear. Pelo caminho apanhámos uma tempestade, um daqueles aguaceiros súbitos que são tão comuns por aqui nesta altura do ano.

Vacas na praia em Cap Skirring

Existe um grande mercado de artesanato no centro da vila onde passámos algumas horas.
Eu e o Mourad numa tenda de artesanato na praia

Á noite jantámos cedo, logo a seguir ao por do sol, porque não comiamos nada durante o dia... estavamos a cumprir o jejum do Ramadão!
Depois de passsear pelas da vila (que continuavam animadas pela noite dentro) iamos até à "dibiterie" comer uns pratos de carne com cebola e tomar cha.
Na tarde do segundo dia alugamos umas bicicletas para dar uma volta, algumas estavam tão empenadas que o pneu fazia fricção no quadro, pedimos outras e depois de meia hora arranjaram-nos umas bicicletas que até tinham bom aspecto. Partimos para o nosso passeio... a minha bicleta durou 15 minutos até lhe cair um pedal. Tivemos que voltar para trás e desistimos do passeio.
Agradou-me ter viajado com o Julien e o Mourad. São alegres, interessados e bem dispostos.
Apreciam conversar com os habitantes locais e aprender com eles. Não têm o complexo de superioridade que muitos europeus têm relativamente aos africanos. E gostam de viajar da mesma forma que eu e visitar o mesmo tipo de coisas, por isso viajar com eles foi sempre um prazer.
Depois de três dias bem passados em Cap Ski despedi-me do Julien e do Mourad e parti na manhã do quarto dia debaixo de chuva intensa para uma longa viagem até Tambacounda, bem longe, no leste do Senegal.